Pugilista sofreu de condição neurodegenerativa relacionada a golpes repetitivos na cabeça, comum entre atletas de esportes de contato.
José Adilson Rodrigues dos Santos, conhecido nacionalmente como Maguila, faleceu nesta quinta-feira (24), aos 66 anos, em decorrência da encefalopatia traumática crônica (ETC). A condição, que compartilha sintomas semelhantes aos do Alzheimer, é causada por impactos repetidos na cabeça, frequentes na carreira de boxeadores e outros atletas de esportes de contato. A informação foi confirmada por Irani Pinheiro, esposa de Maguila, ao programa Balanço Geral, da Record.
A morte de Maguila, um dos maiores nomes do boxe brasileiro, causou comoção entre fãs e celebridades. Nas redes sociais, diversas homenagens relembraram sua trajetória no esporte e destacaram sua luta contra a doença, que comprometeu sua saúde nos últimos anos.
O impacto da encefalopatia traumática crônica no esporte
A encefalopatia traumática crônica, também chamada de "demência pugilística", é uma doença neurodegenerativa progressiva e incurável. Caracterizada pela degeneração cerebral causada por golpes repetitivos, a condição atinge especialmente boxeadores, jogadores de futebol americano e lutadores de MMA. De acordo com pesquisas, aproximadamente 20% dos boxeadores de longa carreira apresentam sinais clínicos de ETC.
Estudos realizados pelo Centro de Pesquisa de ETC da Universidade de Boston apontam que 99% dos ex-jogadores de futebol americano analisados apresentaram a doença após a morte, assim como 87% dos boxeadores profissionais. Os sintomas mais comuns incluem perda de memória, confusão, problemas de comportamento e humor, além de demência em estágios mais avançados.
Maguila: uma carreira marcada por vitórias e desafios
Maguila, que viveu seus últimos sete anos em uma clínica especializada em Itu, São Paulo, lutava contra a demência pugilística desde 2010, quando os primeiros sinais da doença começaram a afetar sua saúde. Durante sua carreira, que se estendeu de 1983 a 2000, o pugilista acumulou um impressionante recorde de 85 lutas, com 77 vitórias, sendo 61 por nocaute, sete derrotas e um empate técnico.
Entre seus adversários mais notáveis, estão lendas do boxe mundial, como Evander Holyfield e George Foreman. Seu estilo agressivo e sua força nos ringues fizeram dele um ídolo do esporte, levando o nome do Brasil para grandes eventos internacionais. Nascido em 11 de julho de 1958, em Aracaju, Maguila superou as dificuldades da infância humilde e se tornou um dos maiores representantes do boxe peso-pesado no país.
Em 2022, em uma de suas raras aparições públicas, Maguila afirmou ao GE: "Quero mandar um abraço para todo o povo brasileiro que me viu lutar. Estou bem e fiquem tranquilos. Só não posso mais lutar, mas estou bem. Essa doença que nem sei falar o nome, mas é difícil."
Irani Pinheiro, sua esposa há 41 anos, destacou o carinho que ele recebia dos fãs: "O Maguila está bem, ele tem uma doença degenerativa e progressiva, mas temos uma equipe que cuida dele 24 horas. A cada dia a gente vê o carinho que as pessoas têm pelo Maguila."
Maguila deixa um legado esportivo inigualável e uma família: sua esposa Irani e três filhos, Adílson, Adenílson e Edmilson. Sua luta, tanto dentro quanto fora dos ringues, será lembrada por gerações de fãs e atletas.
ETC: um alerta para o futuro dos esportes de contato
Com o aumento da conscientização sobre os riscos da encefalopatia traumática crônica, diversas federações esportivas têm adotado medidas para reduzir a exposição a golpes na cabeça. No entanto, a doença continua a afetar um número significativo de atletas, especialmente aqueles que praticam esportes de contato ao longo de muitos anos.
Pesquisas e campanhas de prevenção têm ganhado força nos últimos anos, à medida que casos como o de Maguila e outros atletas de renome trazem à tona o impacto devastador da ETC. Para muitos, o pugilista será sempre lembrado não apenas por seus feitos esportivos, mas também por sua luta contra uma doença que ainda desafia a medicina e o esporte.